segunda-feira, 14 de julho de 2008

Picar a gadanha



Pude vê-lo quando passeava pelo campo. Estava curvado sobre o gadanho e impassível, ao sol escaldante da tarde, concentrado apenas naquilo que fazia.
Focalizo o motivo. O gesto de amolar o metal retorna ao gesto, e a partir daí os mesmos gestos repetidos, monocórdicos, sem fim.
Disparo o botão. A mão que entalha o gesto atinge o seu destino: pára de me surpreender ao fim de algum tempo e apenas deixa mossa sobre o ferro. Basta multiplicar as coisas para estas perderem poesia… Em sentido contrário uma foto transmite melhor esta ideia ao passar a escrito a intensidade de um momento. Guardo a máquina. Suponho que nem me viu. Em instante algum levantou os olhos da bigorna. E lá continua, no seu martelar dolente, sob o sol de cobre das três da tarde, a sonhar com culturas desmedidas, de os olhos fixos na claridade rija do metal… (LP)

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